sexta-feira, 11 de junho de 2010

002-01 Os Cantos dos Escravos


Apesar de no decorrer de sua história o rock and roll ter ficado mais marcado por astros brancos, deve-se aos negros, escravos trazidos da África para as plantações de algodão dos Estados Unidos, a criação da estrutura rítmica e melódica que seria a base do rock. Como se sabe, os EUA fizeram bom e mau uso da escravatura até 1865, importando negros da África, geralmente da África do Sul. Só que os negros não se conformavam em ser arrancados de sua terra natal e, já que não podiam voltar, pelo menos faziam questão de preservar sua própria cultura até onde fosse possível, mantendo sua arte, suas crenças religiosas e seus dialetos africanos.

Aos poucos, os negros africanos iam se aculturando em contato com os brancos norte-americanos, à medida em que passaram a existir escravos nascidos nos EUA (predominantemente no Sul). Esta aculturação é mais evidente na música secular, ou seja, não-religiosa, dos escravos que cantavam e tocavam não como uma forma de arte, à moda dos brancos, mas sim como válvula de escape para o não muito prazer do trabalho forçado nas plantações de arroz e algodão em baixo de chuva, de sol e de chicote. É esta a origem das "work songs" (das quais o grupo R.E.M. um dia faria "a melhor", segundo a ironia deles mesmos),



os cantos de trabalho, compostos de frases musicais curtas e simples, a princípio em línguas africanas, depois em inglês entremeado de termos africanos.



Naturalmente, havia cantos africanos também de outra natureza, como cantigas infantis


ou religiosas.


Os negros cantavam ora sozinhos, ora em grupos; neste caso, um líder (homem ou mulher) fazia o papel de "caller" (chamador/a), cantando uma frase a que todos os outros respondiam. Sim, aqui está a "call-and-response" (chamada-e-resposta) que é a raiz do gospel.


Muitas vezes, o escravo transmitia mensagens "cifradas", ou seja, em seu próprio idioma de origem, para que o feitor não entendesse, em frases curtas e em voz alta, fazendo-se ouvir de longe - e, significativamente, esta frase, chamada "field holler" ou "field cry" (grito no campo), era transmitida numa fala meio cantada, para maior expressividade. Este "field holler" poderia ser um nome, uma ordem ou uma interjeição. (Interessante lembrar, por exemplo, que em 1971 o cantor soul negro Marvin Gaye iria compor e gravar o protesto "Inner City Blues Make Me Wanna Holler",


além do "I'm gonna raise a holler" que Eddie Cochran ameaça em "Summertime Blues".)


Todos estes cantos de escravos tinham em comum o fato de suas melodias raramente ultrapassarem cinco notas, formando uma escala de cinco tons (isso mesmo, a pentatônica), muito usada no Blues.




Veja no vídeo abaixo o que a cultura da África trouxe ao mundo e atente para os vários ritmos que foram criados no Brasil devido a esta influência cultural. Aproveite para conhecer os instrumentos africanos:




No próximo post você verá Blues ... 



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