sábado, 23 de junho de 2012

002-14 Pop Norte-Americano 02


"Bue Moon",


 "Summertime",


"Ol 'Man River",


"Smoke Gets In Your Eyes",


"Deep Purple" (interpretação de John Gary, música que originou o nome da banda de mesmo nome.)


e "True Love"


- só para lembrar algumas canções que fizeram sucesso em regravações de roqueiros tão diversos quanto ilustres, como Elvis Presley, Janis Joplin, Rod Stewart, os Platters e George Harrison. Afinal, o que é bom não tem época. (E "Deep Purple" acabou dando nome àquele famoso grupo inglês, por ser a música predileta da avó do guitarrista.)




Outros roqueiros não se contentaram com regravações e revelaram-se grandes compositores, procurando (e muitas vezes conseguindo) captar a inventividade lírica e melódica dos mestres: Carole King (nasc. 1942), Neil Sedaka (nasc. 1939) e duplas como Doc Pomus/mort Shuman, Jerry Leiber/Mike Stoller, Barry Mann/Cynthia Well. Por sua vez, esta geração de compositores dos anos 50 e 60 foi a grande motivação confessa para formação da dupla John Lennon/Paul McCartney, a mais bem-sucedida dupla de compositores de todos os tempos. Não esquecendo outros grandes compositores de pop e/ou rock surgidos nos anos 60, como a trinca Brian Holland/Lamont Dozier/Eddie Holland (autores de boa parte dos clássicos da Motown), Randy Newman, Bob Dylan, Todd Rundgren, Paul Simon e os ingleses Mitch Murray, Ray Davies (líder dos Kinks), David Bowie, Barry Gibb (um dos Bee Gees).



Interessante é que todas as canções pop pré-rock em compasso 2/2, 2/4 ou 4/4 que não fossem blues ou ritmos estrangeiros (como rumba ou tango) atendiam por um nome só: fox-trot. De modo que quando Chuck Berry cantou em "Roll Over Beethoven" de 1956" eles estão rocando em 2/2... curta este r and b",
 
 
se fosse três anos mais cedo ele estaria se referindo ao fox-trot. Aliás, até por volta de 1955 os discos costumavam trazer no selo a indicação do ritmo das obras gravadas, e - você sabia? - "Rock Around The Clock" com Bill Haley saiu com a indicação "fox-trot", nos próprios EUA (e inclusive no Brasil!).


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Se você desejar, poderá ver as 30 músicas Top da Billboard. São as canções mais populares e imortais. Aqui no blog tem (5) cinco posts com (6) seis filmes cada uma. Aproveite e curta estas canções!


002-14 Pop Norte-Americano 01


Santo de casa às vezes faz milagre; a música comercial dos EUA é mais antiga do que parece, e, apesar de sempre malhada pelos roqueiros mais radicais, estes não tiveram como escapar de sua influência ou pelo menos sua presença. Basta dizer que a Billboard, a mais prestigiada revista de parada de sucessos do mundo, foi fundada em 1894, neste ano de 2012 já completou 119 anos de existência. "Billboard" significa literalmente "quadro de avisos", nome correto para "out door", e no início esta publicação era "devotada aos interesses de anunciantes, impressores de cartazes, colocadores de cartazes, agentes de publicidade e secretários de feiras". É verdade que a primeira parada de discos mais vendidos só foi publicada em julho de 1940 (qual o primeiro lugar? "I'll Never Smile Again" com a big band de Tommy Dorsey, com Frank Sinatra no vocal),


mas o simples fato de haver uma publicação regular "devotada aos interesses de anunciantes" já indica a existência de uma indústria cultural, e bastante próspera. Já existia a gravação sonora, desde 1877, e o disco, inventado dez anos depois, começou logo de saída a tomar o lugar dos cilindros primitivos. Só em 1904, com o sucesso dos primeiros discos do tenor Enrico Caruso, o gramofone deixou de ser encarado como mero brinquedo ou "secretária" para se tornar um dos chamdos pilares da indústria do entretenimento; mas muito antes disso já havia shows e vida noturna à vontade - afinal, havia até uma publicação especializada em cartazes! Os norte-americanos mostram sua vocação para o entretenimento desde cedo - e também desde cedo admitiam influência da cultura negra, adaptada para consumo branco desde os "minstrel shows" ("shows de menestréis") do século XVIII.




Um jornal novaiorquino de 1767 faz referência a uma "dança de negros a caráter", na verdade atores brancos pretejando o rosto com cortiça queimada (exatamente aquilo que Michael Jackson vai acabar fazendo). O que não impedia a participação ocasional de negros de verdade - mas até eles eram obrigados a pretejar o rosto! De qualquer modo, a música dos "shows de menestréis" era quase sempre negra, embora diluída e amaciada pelos atores, quase sempre brancos - e, no fim, esta imitação aguada da música negra acabou sendo imitada pelos próprios negros. De qualquer modo, os shows de menestréis foram responsáveis pela primeira injeção por atacado de cultura negra no "mainstream" cultural norte-americano. E no século XIX a "minstrelsy" tornou-se praticamente bi-racial (embora atores brancos fossem muito mais bem-tratados), com o acréscimo das primeiras canções brancas legitimamente norte-americanas, de Stephen Foster
 
 
e outros (incluindo "I Wish I Was In Dixie's Land" de Daniel Emmett, lançada em 1859 com tanto sucesso que chegou simplesmente a dar nome à região Sul dos EUA e, por tabela, ao "jazz de Dixieland" além de ser regravada até por Elvis).
 
 
Os shows de menestréis sobreviveram até o início dos anos 20 deste século, gradualmente substituídos desde meados do século XIX pelo "vaudeville", mais variados, incluindo não somente música, mas também animais amestrados, peças de teatro e até lutas de box, o equivalente norte-americano do "music-hall" inglês. A princípio, o vaudeville era ambulante, mas lá pelos anos 1880 cada cidade dos EUA já tinha seu teatro de vaudeville. Quase tudo que é comediante americano, como os Três Patetas ou George Burns, se revelou no vaudeville, instituição que, de certa forma, se prolongou até hoje - inclusive, o programa de TV de Ed Sullivan era pouco mais que vaudeville televisionado
 

 
- sem falar que, na sua primeira excursão pelos EUA, numa feira na California, os Rolling Stones tiveram o desprazer de ver um macaco amestrado ser chamado para dar um bis - mas ele não.
 
Al Jolson (1886/1950) foi o último cantor de sucesso a se apresentar de cara pretejada ("blackfaced") e,
 
 
ao mesmo tempo, um dos primeiros idosos de massa, usando fórmulas de sucesso até o bagaço e se promovendo em todas as mídias que existissem - cinema, rádio, disco, televisão, jornais, revistas. Entre estes grandes ídolos da música propular pré-rock ("pop", lembremos, é abreviatura de "popular", mas no sentido mais comercial, com discos, filmes e outros produtos relativos à venda) temos Bing Crosby (1903/1977), Frank Sinatra (nasc. 1915) talvez o primeiro cantor a usar o microfone como instrumento, não como mero acessório de amplificação de voz), Perry Como (nasc. 1912), Dean Martin (nasc. 1917), Johnny Ray (1927/1990, um dos primeiros a fazer sucesso por atrativos não vocais, costumando cantar, veja só, com um aparelho de surdez no ouvido), Mario Lanza (1921/1959) e Rudy Vallee (1901/1986) - consta que Vallee se empolgou sobremaneira com a reação entusiasmada das platéias brancas de 1930 às "blue notes" entoadas por uma orquestra em que cantou. E talvez tenha sido Vallee o primeiro ídolo pop, ainda na era pré-microfone, no início dos anos 20: "Nunca tive muita voz", admitiu Vallee, "fiz sucesso porque fui o primeiro cantor articulado - as pessoas podiam entender a letra."


Por sinal, ontem como hoje, os cantores de mais sucesso costumam ser os que melhor enunciam a letra e cantam mais bonitinho, mesmo não tendo muita voz. A isto se chama "crooning" - cantar canções suaves com voz suave (daí o cantor de um grupo de baile se chamar "crooner", ao contrário do "vocalista" de grupos de música mais agressiva). Dificilmente algum cantor resiste à tentação de aderir alguma vez ao "crooning" - seja Elvis com "Love Me Tender", os Beatles com "Yesterday", os Stones com "As Tears Go By" (em português e italiano!) ou os Guns'n'Roses com "Patience". O grande público norte-americano só aceita cantores inquietos, que não fiquem parados cantando, quando eles aderem de vez à pantomima ou ao "novelty" ("novelty" é qualquer música ou gravação com alguma coisa diferente que chame a atenção, como por exemplo a microfonia no início de "I Feel Fine" dos Beatles, aquele apito descendente em "Ring My Bell", sucesso disco de Anita Ward, ou o sustain da guitarra de "Sweet Child O'Mine" do Guns'n'Roses, sem falar na música francamente humorística dos maestros Irving Aaronson (1895/1963) e Spike Jones (1911/1965), antecessores de Frank Zappa e outros bizarros). E não é à toa que a Kiss, Elton John, Alice Cooper e o Emerson Lake and Palmer, com seus truques de palco que incluíam pianos levitando, esfaqueamento de alto-falantes e contrabaixista cuspindo fogo, sejam citados como os que trouxeram o rock de volta ao vaudeville, atualizando eletronicamente as técnicas de palco do século passado.


O qual, aliás, ainda não passou. Foi dito que estamos vivendo na "era da reciclagem". Os Bee Gees já cantavam em 1967 que "quero comprar uma máquina do tempo/ir pra virada do século/Tudo está acontecendo na virada do século". E em pleno 1993, perto de mais uma virada de século, a cantora Bjork, fazendo sucesso após sair do grupo The Sugarcubes, se espanta com a Inglaterra de 1994: "Tendo vindo da Islândia e tentando agora entrar no clima inglês, descubro todo mundo na Inglaterra viciado na era vitoriana. É como se o povo inglês se envergonhasse da Inglaterra de hoje. Eles estão chateados por não ser 1901, e todos os filmes que eles fazem são sobre essa época e há um monte de imagens da virada do século nos vídeos pop."


Enfim, como já se disse há três caminhos para estar sempre em dia com a moda: você pode ir a Paris, a Milão ou... ao guarda-roupa de seus avós.


E por falar em avós, outro bom exemplo que o rock and roll herdou do pop norte-americano que o precedeu foi a linhagem de grandes compositores (por sinal, quase todos judeus), que quase sempre produziam músicas para filmes ou musicais da Broadway. Estes heróis incluem Richard Rodger (1902/1979), que trabalhou com letristas como Lorenz Hart (1895/1943) e Oscar Hammerstein II (1895/1960); Jerome Kern (1885/1945), que musicou letras do citado Hammerstein e outros; os irmãos George Gershwin (1898/1937) e ira Gershwin (1896/1985); Mitchell Parish (1902/1993); Hoagy Carmichael (1899/1981); além de dois que trabalharam quase sempre sozinhos, Irving Berlin (1888/1989) e Cole Porter (1891/1964). Entre os clássicos do pop criados por estes compositores, podemos citar "Stardust",
 

 

continua no próximo post ...

 

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terça-feira, 12 de junho de 2012

002-13 Reino Unido 02


É impossível superestimar a influência que ingleses sofreram do skiffle americano (como já dissemos) e sofrem até hoje do music-hall, ou seja, o circuito inglês de barzinhos e casa noturnas. Pode-se resumir o espírito do music-hall em duas frases, válidas também para o rock. Primeiro, o pesquisador inglês Peter Gammond em 1977: "O verdadeiro espírito dos 'halls' é o otimismo, uma crença em que sempre há algo do que se rir, por mais desanimador que esteja o momento." A outra vem de um catálogo da Crown and Anchor Tavern, de 1794: "Wespend the social night/ Mixing profit with delight."

Enquanto isso, seus vizinhos irlandeses também cumprem seu papel, não só como alvo de piadas dos ingleses (tal como brazucas fazem com os lusos). Uma delas vem a nosso caso: não há mais irlandeses na Irlanda, todos estão fora dela cantando sobre ela. Um dos primeiros ilustres é Victor Herbert (1859/1924), radicado nos EUA e autor de vários hits como "A Kiss In The Dark",


"Indian Summer" (veja o vídeo com "The Doors")


 e "Ah! Sweet Mystery of Life" (com Jeanette MacDonald - Nelson Eddy)


(além de uma opereta sua de 1903, Babes In Toyland, ter virado filme do Gordo e do Magro e nome de banda grunge dos 1990). (com Bruise Violet, uma banda muito louca, composta apenas por mulheres)


 Além de artistas de repercussão limitada à Grã-Bretanha, como o compositor e humorista Sir Harry Lauder (1870/1950)



 e grupo folk The Dubliners (ativo dos anos 60 até hoje, sempre avesso a modernices e ao sucesso fácil ajudando a preservar o folclore dos celtas, povo indo-germânico radicado na Grã-Bretanha desde antes de Cristo),


 temos ídolos irlandeses do rock de sucesso mundial, como Van Morrison (nasc. 1945)


 e os grupos Thin Lizzy (anos 70), U2 (anos 80) e Therapy? (anos 90). Sem falar nos quatro Beatles, todos descendentes de irlandeses; John e, ocasionalmente, Paul dedicaram-se a defender a Irlanda nas eternas turras com a Inglaterra que costumavam resultar em batalhas civis, já que lá o povo não leva desaforo para casa. (abaixo um dos primeiros concertos dos Beatles.)


(Veja abaixo o último encontro de gravação entre os Beatles. Foi numa cobertura de um sobrado em Londres.)



Não esqueçamos de mencionar o Canadá, vizinho dos EUA e pertencente à Comunidade Britânica de Nações, e que proveu a história do rock and roll, quase desde o começo, com nativos de sucesso como Paul Anka, Neil Young, Joni Mitchell e grupos como The Guess Who, Bachman-Turner Overdrive e Rush.

No próximo post você verá Pop Norte Americana...


 

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002-13 Reino Unido 01


Descobertos e colonizados pela velha Inglaterra, os EUA não poderiam deixar de ser influenciados por sua cultura, mesmo depois de independentes e com identidade e cultura próprias.

No início do século XX, terminada a era vitoriana, a Inglaterra era um país começando a descansar de sua antiga atividade e missão na vida de conquistar o mundo inteiro, porém sempre mantendo a fama de povo excêntrico, fleumático e ordeiro.

Afinal, já diz o provérbio, bastam dois ingleses para formarem uma fila. um paradoxo interessante é ser a Inglaterra um dos países que mais insistem em manter a distinção de classes sociais, mas nada impedir um cidadão inglês esforçado (ou não) de passar de uma classe social para outra. E, ao contrário dos jovens e moleques norte-americanos, a Inglaterra tem uma cultura milenar, além de ser democrática o bastante para que essa cultura possa fluir por todas as classes sociais. Músicos populares ingleses geralmente acabam tentados a "dignificar" sua obra, enquanto os eruditos não costumam se opor a autorizar ou mesmo fazer adaptações mais acessíveis de suas composições (além de buscarem inspiração na música popular). E nada impede que uma parte mostre seu "humour" inglês e parodie impiedosamente a outra, apesar da fama de nação mais polida do universo, sempre dizendo "sorry" e "oh-dear".

Mais para a metade do século XX, a Inglaterra ainda era a campeã da inovação (inclusive, os grandes musicais norte-americanos vinham de Londres até cerca de 1920, quando compositores ianques como George M. Cohan e Cole Porter aprenderam a técnica), mas economicamente, o país era apenas o "50º Estado norte-americano". Combalida pelas duas guerras mundiais - como, aliás, quase toda a Europa -, a Inglaterra acabou se beneficiando com o Plano Marshall americano de ajuda financeira. E, em função dessa debilidade econômica, o mundo só poderia vir a saber de suas inovações musicais se filtradas e divulgadas através dos poderosos EUA - o que, aliás, acontece até hoje.

Mas, artisticamente, os britânicos continuavam imbatíveis.

Muitas das canções de maior sucesso na primeira metade século eram de compositores ingleses, como "These Foolish Things",


"If I Had You"  (1929) Rudy Vallee,


 "Roses Of Picardy".


Não é por só disporem de uma única emissora de rádio e TV, ou por terem que esperar até 1952 para terem sua parada de sucessos, que os ingleses deixariam de influenciar os norte-americanos, ainda que sutilmente. Além dos ídolos de apelo exclusivamente doméstico, como o cantor e humorista George Formby (1904/1961) ("Our Sgt. Major" on his uke-banjo),


havia aqueles que conseguiam acontecer, ainda que pouco, nos EUA, como a cantora Gracie Fields (1898/1979), cujo hit "Sally" foi regravado por Paul McCartney em 1991,


e que emplacou "Now Is The Hour" nos primeiros lugares ianques em 1948,


e Vera Lynn (nasc. 1919), que chegou a cantar para animar as tropas durante a II Guerra e a ser a primeira cantora inglesa a chegar ao primeiro lugar nos EUA (com "Auf Wiedersahn, Sweetheart" em 1952)


 - mas "We'll Meet Again", um de seus grandes sucessos nos EUA e Inglaterra,


chegou a ser regravada já nos anos 60 pelos Byrds



 e Turtles, como uma homenagem meio gozativa à geração anterior.


Continua no próximo post...


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