Para estes roqueiros, celebridade e muita grana importavam ainda menos que sofisticação musical; qualquer um pode fazer rock de garagem, basta ter instrumentos, saber três acordes ou marcar um 4/4, uma garagem ou quarto, cerveja ou um fuminho e vamos lá. Gravações, quando aconteciam, eram no mesmo espírito moleque e agressivo; afinal, rock é troca de energia. Alguns destes grupos, que gravaram desde 1965-66, são The Standells, Syndicate Of Sound, Chocolate Watchband, The Music Machine, Shadows Of Knight (que afirmaram: "Os Stones, Animals e Yardbirds pegaram o blues de Chicago e lhe deram uma interpretação inglesa. Nós pegamos a versão inglesa do blues e re-adicionamos um toque de Chicago" - mais um exemplo de pingue-pongue, e nem fui eu quem falou!) e, na Inglaterra, os Troggs (ativos e diretos até hoje).
No próximo post você verá Middle-of-the-road (MOR)...
Resume-se a blues super amplificado, com guitarra, contrabaixo e bateria socando riffs em uníssono e vocais igualmente estridentes, com efeito e temática aflitivos e tenebrosos. Ancestrais diretos incluem Link Wray, os Kinks, os Yardbirds, Hendrix e o Vanilla Fudge; o heavy tomou forma em 1968 com o surgimento dos ingleses Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath, a que os ianques contra tacaram com Grand Funk, Mountain e outros. Uma ilustre variante, o hard-rock, pode ser vista nos anos 70.
Veja ainda um show completo de Led Zeppelin - Live in Knebworth em 1979:
Mito do rock no 2: "Não houve rock and roll de qualidade entre o sumiço dos pioneiros na virada dos anos 50 para 60 (Continuando a série de fatalidades entre os rock-stars iniciadas em 1959, já em abril de 1960 morreria Eddie Cochran em uma colisão de um táxi contra um poste de energia elétrica. No mesmo carro estava Gene Vincent que juntamente com a namorada de Eddie sofreu apenas ferimentos. O impacto emocional do acidente talvez tenha sido o motivo pelo qual Gene Vincent não mais apresentou a mesma performance e iniciou o declínio de sua careira (chegando a desmaiar no palco durante uma tour pela Inglaterra), Elvis no exército, Little Richard interrompendo a carreira para ser pastor, Chuck Berry na prisão, etc.) No final da primeira fase do rock and roll também foi emblemática a perseguição ao criador do estilo, Allan Freed, processado e condenado ao pagamento de uma multa de mais de US$30.000 por ter recebido pagamentos em troca da execução de determinadas músicas em seus programas e festas. Alegava-se que as atitudes anti-éticas de Allan Freed haviam sido responsáveis pelo sucesso do rock and roll que de outra forma não poderia ter atingido tamanha repercussão. Allan Freed após a divulgação deste escândalo foi obrigado a se retirar da atenção do público. Mas enquanto o rock declinava sensivelmente no seu pais de origem, do outro lado do Atlântico, na Inglaterra, principalmente nas cidades portuária (por terem estas acesso mais fácil às músicas que vinham do continente americano), crescia o interesse pelo rock and roll. Billy Furry foi o primeiro artista de rock inglês a ter alguma repercussão nos Estados Unidos, ainda baseado nos conceitos comerciais do rock original, com músicas feitas por encomenda. Na cidade de Liverpool estava tomando forma um movimento cultural que tomou o nome de um fanzine musical local, Mersey Beat. Entre as bandas locais já destacavam-se os Beatles, os salvadores do rock and roll."
Porém as coisas não iam tão mal assim. Aqui vão algumas provas do contrário - e bastaria lembrar apenas uma delas para derrubar essa falácia (gostaram?):
Beach Boys: banda a início dirigida basicamente à comunidade de surfistas mas que terminou por ter uma inesperada repercussão com o hit Surfin’ Usa (um plágio descarado a Sweet Little Sixteen de Chuck Berry, por quem seriam processados neste mesmo ano). Misturando rock instrumental, doo-wop, boogie-woogie, folk, gospel e muito mais, liderados por Brian Wilson (nasc. 1942), acabaram sendo o melhor grupo vocal branco de rock and roll, os reis da "surf-music" e, no dizer de um crítico norte-americano, "os mais sofisticados roqueiros primitivos", além de se aventurarem pelo art-rock de forma a influenciarem até Revolver e Sgt. Pepper dos Beatles. Em seu rastro surgiriam outros artistas com temas de surf, como Jan and Dean.
Motown: A famosa gravadora de Detroit, fundada pelo compositor e empresário Berry Gordy Jr. (nasc. 1929) e dedicada a gravar soul comercial, porém da mais alta qualidade, diluído apenas o suficiente para agradar ao público branco. E como agradou: foi a gravadora mais bem-sucedida dos anos 60. Seus maiores artistas incluem Stevie Wonder (nasc. 1950), Marvin Gaye (1939/1984), Smokey Robinson (nasc. 1940) e os Miracles, Diana Ross (nasc. 1944) e as Supremes, Marthe Reeves (nasc. 1941) e as Vandellas e os Four Tops (que bateram um recorde em 1994: 40 anos com a mesma formação!).
The Four Season: "concorrente" novaiorquino dos californianos Beach Boys e também dedicados ao doo-wop de branco, mas com vocalizações excelentes, destacando o falsete de Frankie Valli (nasc. 1937), a serviço de composições e arranjos revolucionários.
Phil Spector (nasc. 1940): compositor, guitarrista e, principalmente, produtor de um estilo bombástico e eficiente, misturando soul, doo-wop e "tuttis" (não fruttis) da música erudita. Criador do "Wall Of Sound", transformado canções geralmente medianas em, como ele resumia, "pequenas sinfonias para os garotos". Seus clássicos incluem "Be My Baby" com as Ronettes e "You've Lost That Lovin' Feelin'" com os Righteous Brothers, e sua dominação nas paradas se deu de 1958 a 1965.
Brill Building: nome do edifício novaiorquino onde o produtor Don Kirshner reunia uma equipe de compositores de aluguel. E que compositores: Carole King, Neil Sedaka, Barry Mann (nasc. 1939), Neil Diamond (nasc. 1941), Doc Pomus and Mort Shuman, Jerry Leiber and Mike Stoller... quase todos responsáveis por boa parte do melhor pop norte-americano de 1959 a 1966. Basta dizer que os Beatles, em sua primeira visita aos EUA, fizeram questão de conhecer pessoalmente Carole King e seu melhor letrista e então marido, Gerry Goffin (nasc. 1939), e até hoje a melhor receita para a falta de inspiração é regravar algum hit desta turma. Que Funk, Kylie Minogue, a-ha, James Taylor, os Carpenters, Rod Stewart, o Firm de Jimmy Page, Kiss, Ry Cooder, Blue Oyster Cult...
Em oposição ao rock juvenil e inocente da década de 50, começaram a surgir nos Estados Unidos artistas mais preocupados em passar mensagens importantes através da música. Com base na música folk e tocando em bares surgiam artistas como Bob Dylan e Joan Baez, que em muito breve viriam a mudar o rosto do rock. O movimento intelectual chamado de Beatnik foi de grande importância na formação deste novo estilo. O Beat era caracterizado pela valorização da individualidade, do livre arbítrio, da experimentação e da mudança, em contradição à manutenção dos antigos valores considerados importantes pela burguesia.
Na Inglaterra, contratados por George Martin da EMI, após terem sido desprezados pela gravadora Decca, em 1963 os BEATLES já eram um sucesso sem precedentes usando a formula de juntar o apelo fácil de músicas cativantes a grande presença, bom humor e algum cinismo em entrevistas, que chamavam a atenção da imprensa. Era estranho também para a época que fossem os próprios membros da banda responsáveis por grande parte de suas composições. Com um cover de Come On (música de Chuck Berry) estreava também na Inglaterra, ainda sem grande repercussão, a banda Rolling Stones.
As novidades já não levavam tanto tempo para se espalhar por outros países. Bob Dylan e outros artistas folk dos Estados Unidos penetravam finalmente o mercado inglês enquanto paralelamente os BEATLES conquistavam a América.
Bob Dylan (nasc. 1941): Desde seu primeiro LP em 1962, já era um astro de relativa repercussão e suas letras inteligentes chamavam a atenção de público e crítica, fato inédito até então na música pop. Em abril fez seu primeiro grande show em New York, e teve uma apresentação no programa de TV de Ed Sullivan cancelada em virtude do conteúdo "revolucionário" de suas letras. Curiosamente em abril de 1964 Bob Dylan era número um na Inglaterra com a música The Times They Are A Changin enquanto os BEATLES ocupavam as cinco primeiras posições na parada americana (com Cant Buy Me Love em primeiro lugar). Não haviam atritos ou disputa entre os estilos musicais opostos... as letras e a postura política de Bob Dylan sempre foram abertamente elogiadas pelos Beatles. Já em maio ocorreria na Califórnia o Monterey Festival reunindo Bob Dylan e Joan Baez, além de outros artistas do estilo como Peter Seeger e o trio Peter, Paul and Mary. Rapidamente a música folk e principalmente Bob Dylan seriam taxados de comunistas e degenerados, o que obviamente atraiu a atenção do público jovem e aumentou o apelo do novo estilo. Era o roqueiro solista branco mais influente desde os anos 60, com seu estilo único de composição, fundindo a música folk ao rock, ao r and b, gospel e outros gêneros, bem como seu estilo de interpretação, onde a afinação não importa tanto quanto a expressividade. Imitado por simplesmente todo mundo, incluindo os Stones, Beatles, Kinks, Animals... Por sinal, temos aqui um belo pingue-pongue: os Animals regravaram "House Of The Rising Sun", do primeiro LP de Dylan, num arranjo rock; Dylan gostou tanto que acabou tornando-se um dos inventores do folk-rock.
Os Rolling Stones se tornavam também um grande sucesso mundial com sua ida aos Estados Unidos pouco após os BEATLES (a atitude irreverente dos Stones, com seus frequentes escândalos, era a antítese perfeita à educação e boa aparência dos Beatles, conquistando a parcela mais rebelde do público). Outras bandas inglesas como Herman’s Hermits, The Kinks e The Animals também despontavam.
A partir de 1965, com a banda Yardbirds (de carreira tão curta quanto influente, que teve entre seus membros ninguém menos que Eric Clapton, Jimmy Page e Jeff Beck) e The Who, o rock começava a ganhar uma agressividade inédita, com guitarras mais distorcidas e mais amplificação.
Em 1966, com o single Substitute o The Who finalmente levava o hard rock pela primeira vez ao topo das paradas (em grande parte devido à repercussão do quebra quebra generalizado promovido após os shows pela banda no palco e pelo público na platéia), enquanto Eric Clapton forma o power trio Cream. Nos Estados Unidos as novidades eram menos agressivas: a fusão definitiva entre o folk e o rock da banda The Byrds e Simon and Garfunkel e as harmonias vocais da banda The Mammas and The Pappas.
As influências das temáticas mais complexas do folk rock eram flagrantes (vide a evolução dos BEATLES com o álbum Revolver) e paralelamente às letras mais instigantes os músicos buscavam também levar adiante as sonoridades, explorando instrumentos exóticos e arranjos mais complexos, experimentais e inesperados.
As drogas não mais eram apenas consumidas para eliminar o cansaço, mas sim para buscar prazer e estados alterados de percepção. A música da época foi fortemente influenciada por drogas como LSD, seja porque era composta sobre seu efeito ou porque era composta de maneira a simular ou tentar ampliar seus efeitos. O novo tipo de música foi chamado de psicodélico.
Sobre o efeito de LSD os BEATLES gravaram o que possivelmente foi o álbum mais revolucionário da história do rock, Sgt Peppers’ Lonely Hearts Club Band, em 1967. Pela primeira vez uma banda de rock rompeu definitivamente com o formato extremamente comercial da música hit single, lançando uma obra em que cada música era apenas uma parte do todo. Tendo gasto mais de 700 horas e seis meses de gravação, tratou-se de um álbum instigante desde a sua capa (uma colagem de personalidades admiradas pelos Beatles) até o último sulco do disco (um ciclo sem fim).
Para muitos Sgt Peppers é considerado o nascimento do rock progressivo (que não se prende a nenhum conceito predefinido, baseado na experimentação e no ineditismo). Divide esta glória com um outro álbum, curiosamente gravado no mesmo estúdio e ao mesmo tempo, The Pipers At The Gates Of Dawn, da banda Pink Floyd, que havia ficado famosa pelas suas performances audiovisuais no underground londrino, capitaneada pelo gênio movido a LSD de Syd Barret.
Descoberto e levado para a Inglaterra pelo ex-Animals Chas Chendler, Jimi Hendrix seria uma outra grande revelação de 1967. Com seu segundo single, Purple Haze (o primeiro havia sido Hey Joe, um ano antes) Hendrix captou a atenção não apenas do público, mas de astros como Eric Clapton e Mick Jagger, criando uma nova sonoridade e ampliando definitivamente o papel e os recursos da guitarra elétrica no rock.
Baseados na agressão ao stablishment e na liberdade (sexual e de experimentação) herdada do pensamento beat, surgia nos Estados Unidos o movimento hippie, concentrado principalmente em San Francisco, e tendo como expoentes bandas como Gratefull Dead, Jefferson Airplane (claramente influenciadas por drogas) e The Doors (com seu primeiro single, Light My Fire) e artistas derivados da música folk como Janis Joplin. São marcos da época as flores no cabelo (daí o termo flower power), os cabelos longos e as comunidades alternativas. O símbolo de três pontas relacionado ao lema "paz e amor" foi tomado da sinalização militar que significava "cessar bombardeio". Nada mais adequado em época de Guerra do Vietnam.
O grande evento do ano de 1967 seria o Monterey Pop Festival que reuniu na Califórnia: Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Animals, Simon and Garfunkel, Bufallo Springfield, entre outros.
Em 1968 com o final da banda Yardbirds Jimmy Page forma o New Yardbirds logo renomeado para Led Zeppelin, ao mesmo tempo em que o Cream alcançava um merecido sucesso. Uma outra banda de hard rock, Sttepenwolf, na música Born To Be Wild, cunhava pela primeira vez o termo "heavy metal". A sonoridade do Led Zeppelin era inédita, e embora muito baseada no blues, mais agressiva do que qualquer música anterior. Instrumentistas virtuosos, solos e improvisações de tempo indeterminado começavam a se destacar. O hard rock iniciava seu período de apogeu ao mesmo tempo em que os clássicos como BEATLES e Pink Floyd, passavam por problemas de convivência cada vez maiores (embora os BEATLES ainda fossem levar sua carreira adiante por quase dois anos, o Pink Floyd sofreria uma grande mudança com a saída de Syd Barret).
Em 1969 foi ainda o ano dos grandes festivais. A morte de um fã durante um show dos ROLLING STONES durante uma apresentação gratuita no festival de Altamond, California, foi o marco negativo do ano. Mas mesmo esta má impressão não seria capaz de abafar a realização do que possivelmente foi o maior evento de música de todos os tempos, entre 15 e 17 de Agosto, em Woodstock, interpretado por muitos como o marco do início de uma nova era de paz e amor, com apresentações entre outros de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jefferson Airplane e The Who. No Newport Jazz Festival por sua vez apresentaram-se Led Zeppelin, Jethro Tull, John Mayall, Ten Years After, Jeff Beck, James Brown, Johnny Winter, entre outros.
Com bandas de músicos virtuosos como Pink Floyd, Led Zepellin, Cream, Jethro Tull e Deep Purple, e os super experimentais Mothers Of Invention de Frank Zappa, associados aos trabalhos cada vez mais elaborados de bandas antigas como os BEATLES e o The Who (que havia lançado a ópera rock Tommy, elevando definitivamente o rock a categoria de arte) a simplicidade característica do rock dos primeiros tempos havia sumido.
Você quer mais? Pois não: Del Shannon (1930/1990), grande compositor e cantor ("Runaway", "Keep Searching"); Burt Bacharach (nasc. 1928), não especificamente roqueiro, mas cujo estilo de composição e arranjo sempre agradou a muitos roqueiros; os Kingsmen, as Shirelles, Dionne Warwick e outros grandes astros da gravadora Wand/Scepter; sem falar em veteranos dos melhores ativos e em boa forma, como Ray Charles, Roy Orbison, os Everly Brothers...
Pois bem, podemos agora citar os primeiros estilos de rock surgidos ou desenvolvidos nos anos 60.
Primo-irmão mais velho do rock and roll e que disputa com ele e o blues o título de "única música legitimamente norte-americana" (conforme vossa opinião sobre o que seja legítima música norte-americana ou mesmo o que seja música). Nascido no final do século XIX nos grandes centros urbanos de Nova York e, principalmente, nas mais povoadas por negros Chicago e Nova Orleans, o jazz pode ser mais ou menos definido (já tentaste definir o jazz? Como diz a frase atribuída a Louis Armstrong ou Fats Waller, "se você precisa perguntar o que é jazz, nunca irá entendê-lo") como uma combinação de blues, ragtime, stride, boogie-woogie, gospel e zydeco (que definiremos mais à frente), tocada com instrumentos urbanos como piano, violão e sopros (estes, no início, eram cortesia de bandas militares), sempre com espaço para improvisações a partir de um tema (geralmente um blues).
Segunda Guerra Mundial (1914-1918): A economia de guerra e o desenvolvimento da indústria havia levado mais gente dos campos para a cidade, forçando o relacionamento entre brancos e negros e a tensão social e racial mas também favorecendo a influência mútua entre a música negra (blues e seus derivados) e a música branca (principalmente country e jazz). Da fusão do blues original com os rítmos mais dançantes dos brancos surgiu o rhythm and blues, que levou a música negra ao conhecimento da população consumista.
Originalmente mundano e hormonal como o rock and roll, o jazz também tem seu nome derivado de uma gíria para o ato sexual, a princípio grafada "jazz"ou até "jasz". "Rhapsody In Blue", peça erudita com toques de jazz e blues lançada por Gershwin em 1924, contribuiu muito para que o jazz se tornasse como disseram, "uma dama" respeitável.
NEW ORLEANS: Primeiro estilo do jazz. Criado pelas bandas pioneiras de New Orleans, sua música polifônica, improvisada simultaneamente a três vozes (trumpete ou comet, trombone e clarinete) na linha-de-frente, destacou os primeiros grandes nomes do jazz: King Oliver, Louis Armstrong, Johnny Dodds, Sidney Bechet, Jelly Roll Morton, Bunk Johnson, Freddie Keppard, Jimmie Noone e Baby Dodds. O jazz de Nova Orleans chamou-se no início "Dixieland jazz" ("Dixieland" é o apelido do Sul dos EUA), e suas improvisações seguiam o esquema já citado de tema-e-variações: primeiro a melodia, depois solos improvisados, e para terminar volta-se à melodia. O resultado é bem entusiástico e barulhento (para muitos críticos chatos, é mais entusiasmado que entusiasmante), e o dixieland pode ser considerado ascendente direto do rock and roll - será coincidência o fato de Elvis Presley ter ganho seu primeiro Disco de Ouro por uma mistura de rock-Dixieland, "Hard Headed Woman", em 1958?
(Sim, esta música veio de um filme inteiro neste clima, King Creole, que tinha até um "Dixieland Rock".)
Terá sido Elvis o pai do jazz-rock, do qual falaremos nos anos 60? De qualquer modo, as big-bands de Glenn miller, Artie Shaw, Benny Goodman, cujo apogeu foi nos anos 30 e 40, tiveram papel duplamente importante na história do rock. Além de unirem músicos e arranjadores negros e brancos e acabarem aos poucos com o apartheid musical, as big-bands, com seu espírito de poucos solos individuais e muita união, haviam de influenciar os grupos de rock - confira, por exemplo, os arroubos de "In The Mood", "hit" de Glenn Miller em 1939,
com todos os músicos empenhados no mesmo riff (frase melódica curta e continuamente repetida), técnica adotada em, por exemplo, "I'm A Man" com os Yardbirds,
"You Really Got Me" dos Kinks
(confessamente inspirada no ritmo de "The Train And The River" do saxofonista Jimmy Giuffre),
"Rock Around The Clock" de Bill Haley e "The Jean Genie" de David Bowie.
E Chuck Berry sempre declara que adaptou seu famoso riff de gravações da big band de Benny Goodman de do r and b de Louis Jordan.
FORMAS MUSICAIS QUE ANTECEDERAM O JAZZ
Africanos e europeus trouxeram para o Novo Continente os frutos de suas tradições musicais que, com o aparecimento do jazz, já possuíam formas e características definidas e que seriam aproveitadas e elaboradas com a nova expressão musical.
CALL - Significa "chamada" e seria a primeira manifestação do negro transferida do instrumento para a voz.
SHOUT - Grito individual, curto e bem ritmado, para chamar atenção de forma barulhenta. Do campo passou para a rua (street-cry, espécie de pregão) e para outras zonas de trabalho (docas, estradas-de-ferro, barqueiros, etc.). Gershwin, na ópera "Porgy and Bess", reproduziu vários shouts.
VODUN (Voodoo, Hoodoo, Ring-shout) - Ritual alucinante, de inspiração religiosa. Até o ano 1803 era praticado à noite, às escondidas. Predominava o ritmo obstinado, os cantos monótonos e evocativos, danças ruidosas e gesticulação corporal própria da raça negra. O ritual se aproximava da macumba brasileira e os cantos obedeciam à forma de chamada e resposta.
WORK-SONGS (Labor-songs, Plantation-songs, Holler-songs, Field-hollers, Country-blues) - Cantos de trabalho, para o alívio dos sofrimentos. Tolerados no começo, foram depois aconselhados pelos patrões, pois coordenavam os movimentos de trabalho e aumentavam a produção. Consistiam em motivos monótonos, de reminiscência africana, ou improvisados, ou tirados de melodias conhecidas. O canto era em uníssono, sem acompanhamento, e se desenvolvia entre um guia e o coro; o ritmo, vigoroso. As field-hollers eram chamadas típicas das plantações. Da work-song derivariam a balada e o blues. (A linda balada John Henry, que exalta a força do negro e o desafio do homem contra a máquina, provém de uma work-song).
SPIRITUALS - Gênero criado no Século XIX, a principal origem do blues. Cantos de inspiração religiosa, influenciados pelo coral presbiteriano e pelos sermões cantados e dialogados nos camp-meetings. Representam a expressão coletiva dos povos negros, suas esperanças, suas aspirações (Para confirmar a origem religiosa do spiritual, compare-se, por exemplo, o conhecido Deep River com o hino litúrgico Iste Confessor). O spiritual evoluía de um trecho de hino (que nem sempre era conhecido na íntegra) sofrendo as conhecidas modificações rítmico-melódicas da versão negra e repetido insistentemente. Mesmo assim, não perdia o caráter místico e o sentido de coletividade, através de textos simples e ingênuos, onde o homem e Deus se comunicam familiarmente. (Editada por Allen, Ware e Garrison e patrocinada pelo governo, aparecia em 1867 a coletânea Slave Songs Of The United States, a primeira do gênero, que despertou muito interesse. Incluía work-songs, spirituals, shouts, etc. John e Alan Lomax gravaram (entre 1933-40) vários "gritos" e cantos de trabalho, mantidos vivos nas penitenciárias onde os condenados executavam trabalhos pesados. As gravações pertencem ao Arquivo Folclórico da Biblioteca do Congresso.) O spirituals, meio esquecido depois da guerra civil, foi difundido, a partir de 1871, pelo grupo "Fisk Jubilee Singers", pelos Estados Unidos e pela Europa, despertando a atenção e abrindo o caminho ao blues e ao jazz.
O SPIRITUAL POSSUI DIVERSAS VARIANTES:
Song-sermon - sermão cantado; forma primitiva de evangelização, onde o canto (quase falado) é intercalado de diálogos e várias exclamações, adquirindo, às vezes, aspectos dramáticos. Esta forma ainda é praticada.
Jubilee - é um spiritual baseado num texto mais alegre.
Negro-spiritual, Negro - sinônimos de spiritual, sendo que inicialmente esta forma era cantada por gente de cor.
Gospel, Gospel-song, Canto evangélico - versão moderna urbana do primitivo spirituals, onde o caráter religioso e o estilo coral são mantidos através de movimentação rítmica mais animada e alegre; o prisco caráter estático e místico perderia para a inclusão de um novo swing.
Secular - Canto que possui a mesma estrutura do spiritual, variando porém o argumento, que não é religioso e, quase sempre, é relacionado com a vida do negro.
Convém lembrar alguns nomes ligados a essas expressões religiosas: F. Rosamond Johnson e Harry Thaker Burleight fizeram arranjos de vários spirituals usando harmonização tradicional. Langston Hughes e Thomas A. Dorsey impulsionaram a gospel-song; o primeiro fornecendo textos e o segundo criando as melodias. Mahalia Jackson (1911-72) foi a grande intérprete do spirituals e da gospel que, através do especial modo de fraseado e pelo balanço, conseguiu relacionar a música religiosa do negro com o blues e o jazz. Outros dos maiores expoentes: Sister Rosetta Tharpe, Reverend Kelsey e Marion Williams.
BLUES - É o resultado de elementos do grito do campo, do spirituals, da work-song e de melodias européias, traduzidos num canto individual, com acompanhamento, onde a preocupação é o motivo dominante. O termo blues (invariável quanto ao número) provém de uma expressão atribuída (1807) ao escritor Washington Irving (1783-1859)
Washington Irving
e foi adotado para indicar uma canção melancólico-sentimental e um estado de alma onde predomina a tristeza (blue significa "triste"). Veja mais sobre o Blues que antecedeu o Jazz.
OUTROS ESTILOS DE JAZZ
DIXIELAND: Derivação do estilo New Orleans desenvolvida por músicos brancos de Nova York nos anos 20. Principais expoentes: Miff Mole, Red Nichols, Joe Venuti e Adrian Rollini.
CHICAGO: Outra derivação do New Orleans, com o acréscimo do saxofone na linha-de-frente. Principais nomes: Bix Beiderbecke, Frankie Trumbauer, Bud Freeman, Eddie Condon, Jimmy McPartland, Joe Sulivan.
SWING: Estilo que floresceu nos anos 30, de grande apelo rítmico. Principais figuras: Benny Goodman, Count Basie, Chick Webb, Jimmie Lunceford, Roy Eldridge, Coleman Hawkins, Lester Young, Lionel Hampton, Johnny Hodges, Harry Carney, Cootie Williams, Buck Clayton, Harry James, Teddy Wilson.
MAINSTREAM: Amálgama de elementos da era pré-swing e do swing, mesclados a inovações emprestadas a outras formas musicais.
BEBOP: Estilo surgido nos anos 40, deu início à era moderna do jazz. Revolucionou todos os conceitos em tempos de improvisação, melodia, harmonia, rítmo, composição, sonoridades e timbres. Criado por Dizzy Gillespie, Charlie Parker, Thelonious Monk, Kenny Clarke e outros, teve milhares de seguidores, entre eles Bud Powell, Fats Navarro, J.J. Johnson, Miles Davis, Dexter Gordon, Cecil Payne, Sonny Stitt.
COOL JAZZ: Caracterizado pela maneira moderada de tocar sem vibrato, trouxe uma nova estética através de coloridos tonais extraídos de instrumentação própria, que incluía tuba e tromba. Principais músicos: Miles Davis, Gil Evans, Gerry Mulligan, John Lewis e Lee Konitz.
WEST COAST JAZZ: Derivação do cool jazz, desenvolvida na Califórnia por músicos brancos egressos das orquestras de Stan Kenton e Woody Herman. Principais nomes: Shorty Rogers, Jimmy Giuffre, Shelly Manne e Chico Hamilton.
HARD BOP: Segmento do bebop, com maior força de expressão rítmico-melódica, desenvolvido pelos conjuntos de Art Blakey, Horace Silver, Clifford Brown-Max Roach e Sonny Rollins.
FREE JAZZ: Jazz de vanguarda em que a improvisação é livre, sem se fixar nos acordes de base e no rígido andamento. Criado à partir das inovações de Omette Coleman, teve como expoentes John Coltrane, Don Cherry, Cecil Taylor e Anthony Braxton.
FUSION: Fusão entre a improvisação do jazz sobre ritmos de rock e música pop em geral, utilizando instrumentos eletrônicos e de percussão. Expoentes: Miles Davis, Chick Corea, Weather Report, Stanley Clarke, Pat Metheny, Freddie Hubbard, Herbie Hancock, Grover Washington Jr. E George Duke.
JAZZ LATINO: Improvisação do jazz sobre ritmos latinos e percussão, em voga dos anos 40, introduzido pela Orquestra de Dizzy Gillespie.
CONTEMPORÂNEO: Evolução do jazz moderno, à partir do bebop, com elementos do hard bop e do free jazz, inseridos na forma e no conteúdo das improvisações.