sexta-feira, 28 de março de 2014

002-20 Conjuntos Vocais


O primeiro instrumento musical a chamar atenção no blues, e também o mais expressivo, foi a voz humana. E não demorou muito para que o único defeito do instrumento, o de ser monofônico, ou seja, só pode emitir uma nota por vez, encontrasse solução eficiente, agradável e das mais influentes: o canto em grupo com harmonização de vozes, inovação renascentista, quando os corais (e também as orquestras) aprenderam a pensar em harmonias, inclusive linhas de baixo móveis, e que o negro-americano adotou entusiasticamente.

É claro que, nos EUA da virada do século XIX para XX, havia grupos vocais brancos e negros, muitos empenhados no gênero chamado "barbershop harmony", com harmonias simples (terças, sétimas menores e maiores, sextas), praticadas no início em salões de barbeiros, daí o nome. Talvez os primeiros grupos vocais com harmonias que até hoje soam acrobáticas e interessantes tenham sido o Norfolk Jazz Quartet (negro) e The Revelers (branco), nos anos 20; com certeza, os mais influentes foram os Mills Brothers (anos 30 a 50), que chegavam a dispensar instrumentos de verdade, imitando-os com as vozes, e os Ink Spots (mesma época), de estilo mais simples (o tenor canta a melodia, o baixo faz uma declamação e os outros se limitam a harmonizar ou fazer "oohs" e "aahs") mas, por isso mesmo, mais fácil de ser imitado (o primeiro disco de Elvis foi de dois "covers" dos Ink Spots).

Nos anos 40, os grupos vocais acabaram por se cansar de ficarem só nos "oohs" e "aahs" enquanto um deles solava, inventando sílabas sem sentido literal mas altamente eficientes sonoramente. Ao mesmo tempo, os tenores decidiram fugir um pouco de letra e melodia com ligeiros improvisos em falsete.

O nome deste estilo negro de harmonização vocal, em que a sonoridade de sílabas "nonsense" era mais importante que as letras, acabou sendo uma dessas frases sem sentido, "doo-wop" (e poderia ter sido qualquer outra com a mesma expressividade).

Entre os primeiros grupos doo-wop, surgidos no fim dos anos 40, temos The Orioles, The Ravens e The Clovers. Quem ajudou muito o doo-wop foi nosso amigo DJ Alan Freed, que divulgou muitos destes grupos como rock and roll - e ele não estava errado, já que as interpretações destes grupos tinham muito de gospel e r and b. Os grupos doo-wop mais ilustres a surgirem nos anos 50 incluem The Platters, The Drifters, The Diamonds, The Cadillacs, The five Royales, The Crows, The Penguins e Frankie Lymon and The Teenagers (um Jackson 5 pré-histórico, com Frankie (1942/1968) arrasando nos vocais aos 13 anos). Alguns grupos se afastavam ao máximo das baladonas e partiam de vez para a demência, como The Rivingtons ("Papa-Oom-Mow-Mow"), The Marcels (depois deles "Blue Moon" de Rodger/Hart nunca mais foi a mesma) e The Coasters (muito beneficiados pela produção e composições satíricas e inteligentes de Leiber and Stoller).

Havia também grupos brancos mais comportadinhos, mas de qualidade e sucesso, nos anos 50, como  The Four Freshmen (primeira formação) e (formação mais atual), The Four Preps e Four Lads (comportadinhos até nos nomes, como se vê).

Todos esses grupos, brancos e negros, doo-wop ou não, foram de maior importância para o rock pós-anos 50, influenciando qualquer grupo que tivesse mais de dois vocalistas - Beatles, Hollies, Bee Gees, Crosby, Stills, Nash and Young, Stylistics, Four Tops e, principalmente, os Beach Boys - que podem ser definidos como o grupo doo-wop mais demente de todos os tempos. E é muito bom que o doo-wop continue se modernizando até hoje, com grupos como Manhattan Transfer e Take 6.


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